A arte de bordar era uma obrigação para todas as mulheres que nasciam na Glória do Ribatejo. Quem não tinha esse dote podia mesmo nunca vir a casar. A tradição era aprendida desde tenra idade. Aos cinco, seis anos já as meninas começavam a aprender com as avós e mães a arte mais nobre da vila mais ribatejana de Portugal.

Atualmente, os tempos mudaram e a tradição é preservada pela Casa do Povo da Glória. Rita Pote coordena a direção e promete nunca deixar cair no esquecimento esta arte. Um grupo de mulheres continua a bordar e a replicar as peças mais antigas que estão expostas no edifício.

“Naqueles tempos, a vida da mulher era passada no campo e a bordar. Era a forma de ocupar o tempo. As condições financeiras não eram muitas e, por isso, nem sempre havia dinheiro para comprar mais pano e linhas – talvez seja essa a explicação para termos peças tão recheadas e ricas. As mulheres iam bordando, bordando, até não haver mais espaço.”

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Rita Pote é a coordenara da Casa do Povo da Glória | © Record TV Europa

Bordavam nas horas vagas, na maior parte das vezes à luz dos candeeiros de petróleo. As bordadeiras preparavam o enxoval para quando chegava o momento de casar.

“Na própria exposição que temos aqui patente na casa do Povo é possível ver essa distinção. Os trabalhos feitos na vida de solteira e depois de casar. Cuidavam da própria roupa com peças únicas que exibiam essencialmente ao domingo, e depois do casamento dedicavam-se à casa e à roupa do marido e dos filhos. Antigamente, se uma mulher não soubesse bordar era olhada de lado, era sinal de que não ia saber cuidar da casa e da família.”

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© Record TV Europa

Nas relíquias que estão expostas na exposição dos Bordados da Glória é possível apreciar os trajes da aldeia, da vila e dos vários momentos da vida de quem vivia naqueles tempos. Um património que guardam e que querem levar ainda mais longe.

“Já é Património Cultural Imaterial – e isso já nos deixa felizes -, mas queremos levar esta tradição até onde pudermos. É um orgulho para nós podermos fazer parte e saber marcar.”

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O saber é transmitido entre gerações, dando origem a bordados que são autênticas obras de arte | © Record TV Europa

O termo marcar é utilizado na Glória do Ribatejo como o ato de bordar e encontrar a linha certa para o bordado ficar de acordo com as regras. As peças são únicas e ganham nova vida sempre que este grupo de mulheres se junta e promove a tradição pelo mundo fora.

FONTE© Record TV Europa