Cancros da mama e colorretal entre os mais frequentes em 2020

Novos casos de cancro abaixo dos 50 anos aumentam
Anna Tarazevich, Pexels.com

Em 2020 foram registados, em Portugal, mais de 52 mil novos casos, menos 9% do que em 2019.

Os cancros da mama, colorretal, próstata e pulmão foram os mais frequentes em 2020, sendo que, seguindo o padrão habitual, nas mulheres prevaleceu o da mama e nos homens o da próstata, refere o Registo Oncológico Nacional (RON).

“Não se esperavam muitas variações nos tipos de cancro mais frequentes face aos anos anteriores. Estes dados vão ao encontro do padrão habitual. O que sobressai neste RON é o número total de novos casos que é inferior ao previsto, algo que reflete o impacto da pandemia da covid-19”, disse à agência Lusa a coordenadora do RON, Maria José Bento.

Em 2020 foram registados, em Portugal, mais de 52 mil novos casos, menos 9% do que em 2019.

O cancro da mama sobressai com 7.504 novos casos, seguindo-se o do colorretal com 6.680. Foram registados 5.776 novos casos de cancro da próstata e 4.737 de cancro do pulmão.

Nas mulheres o cancro mais frequente é o da mama (7.425), seguindo-se o colorretal (2.757) e o da pele não-melanoma (1.625).

Os novos casos em homens têm mais expressão na próstata (5.776), colorretal (3.923) e pulmão (3.289).

Em Portugal, o cancro é a segunda causa de morte, responsável por mais de 28 mil mortes anuais, tendo em 2020 sido responsável por 23% de todas as mortes.

Ainda de acordo com o RON 2020, o cancro do pulmão foi responsável por 15,4% das mortes por cancro.

O cancro colorretal provocou 13,3% das mortes por cancro, enquanto o cancro do estômago causou 7,9% das mortes.

Na mulher, o cancro da mama (16,1%) foi o principal responsável pela mortalidade por cancro, enquanto no homem, foi o cancro do pulmão (19,4%).

Ao da mama, nas mulheres, seguiu-se o cancro do colorretal (13,4%) e o do pulmão (9,7%) como principais responsáveis pela mortalidade por cancro.

Nos homens, a seguir ao pulmão, o cancro que provocou mais mortes em 2020 foi o do colorretal (13,2%) e o da próstata (11,3%).

O RON é um registo que assenta numa plataforma única eletrónica, que tem por finalidade a recolha e a análise de dados de todos os doentes oncológicos diagnosticados e ou tratados em Portugal continental e nas regiões autónomas.

Este registo inclui todos os tumores na população residente em Portugal e permite a monitorização da atividade realizada pelas instituições, da efetividade dos rastreios organizados e da efetividade terapêutica, a vigilância epidemiológica, a investigação e, em articulação com o Infarmed, a monitorização da efetividade de medicamentos e dispositivos médicos.

Salvaguardando que estão a ser cumpridos os prazos legais, a coordenadora explicou à Lusa o porquê de estarem agora, em 2024, a serem conhecidos os dados de 2020, apontando para a necessidade de “maturar” uma informação que “é muito complexa”.

“O RON é alimentado de informação de todos os hospitais públicos e privados. Há um tempo da própria patologia que demora. O diagnóstico nem sempre é muito imediato e depois seguem-se os tratamentos. É muita informação com um certo grau de complexidade e é preciso muito cuidado na forma como é registada”, referiu.

Maria José Bento, que é também diretora do serviço de Epidemiologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, frisou que “a informação sobre a incidência de cancro a nível nacional tem de ser disponibilizada a cada três anos em relação à data de diagnóstico da patologia”.

“E esse prazo está a ser cumprido”, disse, acrescentando a convicção de que este intervalo de tempo “é importante para depurar a informação”.

“Estes prazos estão bem definidos. Seria difícil fazer isto mais depressa e não tem muito interesse até. A doença oncológica não tem surtos nem picos. Tem vindo a aumentar, mas é relativamente estável”, concluiu.

A especialista aproveitou para deixar apelos quer à população, quer aos decisores políticos.

“Adotem estilos de vida saudável como não fumar, fazer exercício, recorrer ao médico de família com frequência, aderir aos rastreios. E os rastreios devem ser incentivados e a organização deve ser extensível a todo o país. Ainda há diferenças territoriais de cobertura e organização e isso não faz sentido”, concluiu.