Médicos do Norte iniciam greve por valorização profissional e salarial 

Adesão à greve dos médicos ronda os 95% nalguns centros de saúde de Lisboa
Karolina Grabowska Pexels.com

Os médicos da Administração Regional de Saúde Norte iniciaram hoje uma greve de dois dias convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM), exigindo que o Governo integre toda a classe médica na tabela remuneratória única da função pública.

De acordo com o SIM, os médicos estarão paralisados desde a meia-noite até às 24:00 de quinta-feira.

Em declarações à agência Lusa, secretário regional do SIM Norte, Hugo Cadavez, adiantou que as negociações com o Governo “não deram resultados”.

“Esgotado o prazo negocial [em 30 de junho] vimo-nos confrontados com esta necessidade de recorrer à mais dura forma de luta, que é a greve, que nós não gostamos de fazer, que não queremos fazer, mas fomos obrigados a fazê-la, como forma de demonstrar o nosso descontentamento”, salientou.

Segundo Hugo Cadavez, os médicos que trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS) sentem que as “condições de trabalho e as condições remuneratórias não são atrativas”.

“É isso que tem vindo a levar a uma saída sem precedentes de médicos no SNS. (…) Apenas em 2021 e 2022 saíram mais de 2.000 médicos do SNS. Essa é a principal motivação para esta greve”, realçou.

O dirigente sindical solicitou que as “negociações tenham propostas concretas e objetivas (…) e não de um aumento salarial de 1,6% quando a inflação no último ano foi de 7%, quando os médicos perderam 20% do poder de compra nos últimos 10 anos, quando na função pública todos os grupos profissionais viram o ganho médio mensal aumentar e os médicos (…) diminuir”.

“Tudo isto leva (…) a situações inéditas de haver encerramentos rotineiros de serviços de urgência por falta de médicos, (…) porque os médicos estão a sair do SNS, estão descontentes com aquilo que se está a passar no SNS e depois não há capacidade, com os médicos que estão nos quadros dos hospitais e recorrendo a médicos prestadores de serviços tarefeiros, de conseguir ter uma escala de urgência completa”, observou.

O sindicato exige que os Ministérios das Finanças e da Saúde apresentem “uma proposta de grelha salarial que reponha a carreira de perdas acumuladas por força da erosão inflacionista da última década e que posicione com honra e justiça toda a classe médica, incluindo os médicos internos, na tabela remuneratória única da função pública”.

Na greve que se iniciou hoje às 00:00, estão abrangidos 12 hospitais e 11 Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES), estando assegurados os serviços mínimos.

A paralisação, segundo o SIM, terá impacto no Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto), Unidade Local de Saúde (ULS) de Matosinhos (Porto), Centro Hospitalar (CH) Póvoa de Varzim/Vila do Conde (Porto), CH do Tâmega e Sousa (Porto), CH do Médio Ave, Unidade Local Saúde (ULS) do Alto Minho (Viana do Castelo), CH de Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real), ULS do Nordeste (Bragança), Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses do Norte, Hospital Forças Armadas (Porto), Instituto Português do Sangue e da Transplantação (Porto) e Divisão Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (Porto).

Também os ACES de Alto Trás-os-Montes – Alto Tâmega e Barroso, Douro I – Marão e Douro Norte, Douro II – Douro Sul, Grande Porto I – Santo Tirso/Trofa, Grande Porto III – Maia/Valongo, Grande Porto IV – Póvoa do Varzim/Vila do Conde, Grande Porto VI – Porto Oriental, Tâmega I – Baixo Tâmega, Tâmega II – Vale do Sousa Sul e Tâmega III – Vale do Sousa Norte estarão afetados.

A ARS Norte tem ainda prevista mais uma greve em 20 e 21 de setembro.