Que peso e responsabilidade sentes por ser considerado um fenómeno do digital, Luccas?
Muita! Hoje tenho uma equipa para partilhar este peso, então cada um tem a sua responsabilidade. Eu crio e depois os pedagogos, psicopedagogos e psicólogos trabalham para transformar todos os conteúdos em educação. Então, a responsabilidade é enorme, mas é partilhada.

Mas sai tudo da tua cabeça, certo?
Sim. Eu sou a parte criativa da empresa. Crio os filmes, as séries, as personagens e depois reúno-me com a equipa para desenvolvermos tudo juntos.

Tens tempo para dormir?
Deito-me às quatro ou cinco da manhã e acordo às nove todos os dias. E agora, depois de o meu filho ter nascido é desesperador, porque quando estou a querer dormir é a hora que ele acorda com fome, a querer a amamentação. [risos]

Tu és um ídolo da geração mais nova. O que te levou a trabalhar para esse público?
Acho que a realização de sonhos. Quando eu era pequeno, tinha muitos sonhos – por exemplo o de ir à Disney para conhecer as minhas personagens de desenhos animados favoritas. E eu não tinha a possibilidade de realizar isso. Uma cena bem marcante para mim foi quando o meu irmão foi à Disney e eu fiquei, da janela, a vê-lo ir realizar um sonho que também era meu – isso porque somos irmãos somente da mesma mãe, mas de pais diferentes.

O que te fascina nas crianças?
A sinceridade delas. Elas não têm filtro, falam o que lhes vem à cabeça. Já passámos muitas coisas boas com as crianças, com histórias engraçadas. A inocência delas é o que não pode acabar. Por isso é que nós prezamos muito que os pais acompanhem também aquilo que os filhos veem na Internet.

Entrevista Luccas Neto
Luccas Neto é empresário e um dos influenciadores digitais mais populares entre as crianças. Em setembro regressa a Portugal, às cidades de Lisboa e Porto, com o espetáculo ‘Luccas Neto e a Escola de Aventureiros’ | © D.R.

Sentes que teres começado como youtuber para o público infantil tem a ver com sonhos e desejos que ficaram para trás quando eras criança?
Com certeza. Eu gostaria de ter brinquedos que não pude ter… Então, quando comecei no YouTube comprei muitos deles e gravava-me a abri-los. Hoje, isso é considerado consumismo e não é uma boa mensagem para as crianças. Mas este foi o meu primeiro passo: divertir-me a comprar e a abrir os brinquedos em vídeo. Quando fazia esse unboxing nem sequer sentia que estava a trabalhar. Aquilo era uma conquista muito grande, mas quando a nossa equipa de pedagogos, psicopedagogos e psicólogos mostrou-nos que não era uma boa linguagem parámos.

Nos teus espetáculos há duas vertentes: entreter e ensinar. Como elas se completam?
Através da música e da dança, por mais que nesta parte eu esteja fora – não sei dançar. [risos] Eu falo diretamente com as crianças, olhos nos olhos.

E sobre o musical ‘Luccas Neto e a Escola de Aventureiros’ – já apresentado em Portugal e que regressa em setembro – o que nos podes dizer?
O musical serve para mostrar que todos podem ser aventureiros, até os pais. Todos podem ser aventureiros e respeitarem-se uns aos outros – ser-se positivo, ajudar o próximo. O objetivo é esse.

É claro que no espetáculo [‘Luccas Neto e a Escola de Aventureiros’] há vilões, mas não importa o que aconteça. O bem sempre vence o mal

E que aventuras exatamente vives neste musical?
Ensina-se as pessoas comuns a tornarem-se aventureiros. Antes disso, eu mostro que eles têm de ser aprendizes de aventureiros e eu sou o líder deles. Durante esse processo de aprendizagem, aparecem dois vilões a quererem roubar a minha ‘Pedra do Poder’. Então, a primeira missão deles, para se tornarem aventureiros de verdade, é enfrentarem o vilão com a minha ajuda.

Tens quatro companheiros na performance. Quem são?
São os nossos aprendizes de aventureiros. São pessoas comuns que vieram da ‘Cidade da Alegria’ e que têm vontade de se tornarem aventureiros. E as pessoas amam-nos, porque eles dançam muito.

Mas este espetáculo também é para a família. Como abordas o mundo materno e paterno?
O nosso maior objetivo é conquistar a família. Eles têm de acompanhar o que as crianças estão a ver. É assim que garantimos que o nosso conteúdo é de qualidade. Quando eu transformei isto numa empresa de entretenimento infantil, eu apaguei quatro mil milhões de visualizações no meu canal. Isso seria muito dinheiro todos os meses, mas eram conteúdos não aprovados pela minha equipa e eu queria uma plataforma segura para as crianças.

Então, o espetáculo não é só para as crianças, mas serve para mostrar o resultado do nosso trabalho também aos pais

Falas também do desafio de educar um filho. Tem a ver com o momento atual da tua vida, como pai?
Sim, é uma missão muito difícil. Com tantas coisas erradas no mundo, tanta violência, eu descobri ainda mais que é uma missão difícil. Agora que tenho o meu filho, percebo. Sabem aquele clichê de ‘só vais saber quando fores pai’? É verdade! Quando olhas para aquela criança, percebes a magia que acontece.

O teu filho é teu maior desafio?
O melhor sim, mas o mais difícil é a empresa. O difícil é manter 130 funcionários e, todos os dias, pensar em conteúdos para crescermos.

FONTE© D.R.