Fundador da produtora Yellow Star Company, encenador, com histórico no jornalismo e no mundo das revistas, Paulo Sousa Costa, em entrevista ao ‘Palco Record’, recordou o seu percurso e partilhou sentimentos sobre a carreira.

A tua vida começou no jornalismo… Como foi essa experiência?
Foi uma experiência muito enriquecedora, que trago e trarei sempre comigo. Tudo começa pela minha paixão por motas e o desejo de comprar uma. Então, enquanto estava a estudar Direito, arranjei um part-time de jornalismo, numa revista. Houve até casting e triagem, gostaram de mim e do que escrevia. Assim, comecei na revista ‘Motociclismo’ como estagiário. Consegui comprar a minha mota – que era meu objetivo – e, depois, felizmente ou infelizmente, fui crescendo no jornalismo, passei a chefe de redação e cheguei a diretor de uma revista internacional, a ‘Men’s Health’. Aí, já era impossível voltar ao Direito.

E foste feliz?
Fui muito feliz, e feliz numa altura em que o jornalismo e as revistas também eram muito felizes. Só o facto de ir viver para os EUA para trabalhar na ‘Men’s Health’ deu-me outras perspetivas. Abriu-me um mundo que eu não conhecia.

Aliás, abriu-te até o mundo da televisão, da apresentação…
Na verdade, eu já tinha experimentado a televisão antes, mas o boom foi a partir da ‘Men’s Health’, quando me tornei mais conhecido e as coisas foram aparecendo. Participei no ‘Eles Sobre Elas’, depois tive uma rubrica de solidariedade, a ‘Faça Como Eu’, e foi outra viagem muito interessante. Até cheguei a achar que ia mais longe na televisão, mas o apelo do teatro foi maior.

Em 2008 começas no teatro. Como ele aparece na tua vida?
Desde muito pequeno, sempre gostei muito de teatro e já escrevia umas ‘coisitas’. Vivi no Brasil e nessa época escrevia novelas. Sempre tive o teatro, o espetáculo e o palco comigo. Também sempre fui meio ‘palhaço’ enquanto miúdo e adolescente, portanto o teatro sempre foi muito premente. Mas não podemos esquecer que ainda sou de uma geração em que ser ator e ir para o teatro era para os ‘malandros’.

E como encenador, hoje em dia, o teatro tem um encanto especial?
Sim, quando me iniciei no teatro comecei ainda na parte da produção, mas sabia que era só uma passagem. Estava a querer acumular conhecimento para juntar com o apelo que eu já sentia por este ramo. Acho que, façamos o que fizermos, temos de ter base teórica e de formação. Ainda hoje faço formações na Broadway, em teatro musical, e resolvi ir para a Escola Superior de Teatro fazer um mestrado em encenação. E pronto, depois larguei a produção para ficar mesmo com o lado artístico.

Quando me iniciei no teatro comecei ainda na parte da produção, mas sabia que era só uma passagem

Qual é o verdadeiro papel do encenador?
Esta resposta é muito grande. São vários papéis. O essencial, se quisermos fazer uma metáfora, é como se fosse um maestro numa orquestra, em que há que conduzir vários artistas para que deem o seu melhor. No meu caso, acumulo também a parte da direção artística, porque também escolho as peças que vamos fazer. Então, vejo as peças antes, quando ainda estão em cena, e começa aí o meu processo. Depois, a escolha do elenco para mim é sempre a mais difícil, porque eu hesito bastante e tento informar-me sobre a pessoa. Logo, segue-se todo o trabalho de escolher o cenário com a equipa criativa, as músicas quando é o caso, as maquilhagens e damos o arranque com os ensaios. Portanto, o meu trabalho começa muito antes de iniciarem os ensaios e muito antes das estreias.

Já produziste várias peças de teatro… Sentes que essa função te faz feliz?
Sinto muito essa vontade. Eu trabalho desde um monólogo até um musical com 20 pessoas em palco. Teatro é isso, irmos às várias cores que a interpretação pode alcançar.

É possível dizer que há um pouco de ator em ti?
Acho que só estou como encenador porque fui fazendo outras coisas na minha carreira. Eu realmente começo no teatro como ator, mas como me foram colocados outros planos e profissões, numa altura da minha vida em que realmente abraço novos caminhos, não fazia mais sentido a representação. Mas nunca se sabe.

E és feliz como encenador?
Sim e faz-me falta. Antes da pandemia, encenava quatro peças num ano. Realizo-me bastante. Independentemente das coisas que eu tenha na cabeça a cirandar, nas horas de ensaio não me lembro de mais nada, fico completamente absorvido. Desligo do mundo e só isto já é uma realização.