Pedro Fernandes - Share Magazine - Opinião
Pedro Fernandes

Contabilista certificado

Segundo um estudo recente, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) considera que 60% dos portugueses pertencem à classe média, ou seja, uma pessoa que ganhe entre 7 607 euros e 20 285 euros anuais brutos pertence à classe média, no mesmo sentido, um casal que leve para casa entre 10 758 e 28 688 euros, idem. Abaixo destes valores ficam 29% da população, onde se incluem alguns reformados e pensionistas – que trabalharam uma vida inteira -, os que não querem trabalhar e os imensos subsidiodependentes.

Mas pergunto-me se estes números traduzem de facto a realidade? Sem grande medo de errar, atrevo-me a responder que não.

Atualmente estamos a assistir a uma enorme subida do custo de vida, fruto de uma inflação que atingiu os 8,4% em 2022 e que não é de todo acompanhada pela subida dos salários, que em média registaram um aumento nominal na ordem dos 4,5%, o que origina a perda de poder de compra e aumenta a dificuldade dos portugueses em sobreviver, sobretudo a chamada classe média.

Mas as adversidades não ficam por aqui, e os anos de 2021 e 2022 ficarão na história, entre outros motivos, como sendo aqueles em que se bateram recordes em termos de impostos, sendo que em 2022 a carga fiscal média sobre um trabalhador português atingiu os 38,2% do Produto Interno Bruto (PIB), uma das mais elevadas dos 38 países que fazem parte da OCDE.

Refira-se que na Europa, Portugal aparece mesmo à frente de Espanha, Luxemburgo, Grécia, Países Baixos e Irlanda. Nem nos piores anos da ‘troika‘, em que toda a gente se queixava de uma carga fiscal excessiva, se registaram valores tão elevados (na altura 34,4%). Aqui tenho de reconhecer o mérito do governo de António Costa, que se poderá gabar de ter conseguido colocar os portugueses com o maior volume de impostos de que há memória, provavelmente, seguindo a velha máxima de Fernando Ulrich, que em meados de 2012 ficou célebre pela sua resposta à pergunta “O país aguenta mais austeridade?… Ai aguenta, aguenta” e pelos vistos temos mesmo de aguentar.

Se fizermos uma comparação com os países da OCDE, e se tomarmos como exemplo um casal da chamada ‘classe média’, com dois dependentes, em que um dos elementos do agregado receba um salário de 1 034€, pela média da OCDE teria uma carga fiscal de 29,4%, mas em Portugal paga em impostos e descontos para a segurança social 37,5%.

Mas como se costuma dizer que um mal nunca vem só, os salários da chamada classe média ao longo dos últimos anos não têm sequer aumentado proporcionalmente ao salário mínimo, nem tão pouco em relação à inflação. E hoje temos uma classe média com vencimentos pouco acima do salário mínimo, que para ter uma habitação digna, tem de suportar os aumentos das taxas de juro ou rendas astronómicas; que para fazer face às suas despesas mensais é forçada a mudar o seu estilo de vida – e já são muitos os que vivem com dificuldades.

Esta é a dura e triste realidade que continua a ser sistematicamente ignorada pelos governos. E se formos realistas, hoje temos uma classe média em vias de extinção e completamente empobrecida.

FONTE© Envato